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A opinião do farmacêutico e o respeito à população não contam?

31/01/2017

 A opinião do farmacêutico e o respeito à população não contam?

 

A rede Globo veiculou no Fantástico deste domingo, 29, matéria sobre testes realizados em três medicamentos genéricos, usados regularmente pela população brasileira, no intuito de avaliar sua composição com os remédios de referência, os chamados "de marca". A reportagem verificou diferenças nos resultados apresentados por alguns laboratórios, embora em nota, as empresas tenham divulgado que seguem todos os padrões estabelecidos pela Anvisa para a fabricação das drogas, inclusive com avaliação e permissão da Agência para a disseminação delas no mercado. 

 

A conclusão que chegamos é que, além de ter sido uma matéria tendenciosa, voltada para promover as grandes empresas farmacêuticas, contrárias à produção e uso dos genéricos, a reportagem ainda desconsiderou a opinião dos verdadeiros responsáveis pela produção dos medicamentos: os profissionais farmacêuticos. Apenas médicos foram ouvidos como especialistas para "esclarecer" à população os perigos que os resultados obtidos podem causar aos usuários.

 

Nenhum representante do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) foram procurados para opinar sobre os testes. A opinião ficou restrita ao Conselho Federal de Medicina (CFM), Anvisa e um médico, que é ex-secretário da própria Agência. Estranho isso não é? O que somos então? "Coadjuvantes" em uma área que é excepcionalmente de atribuição nossa? Parece que somos invisíveis, mesmo quando o assunto cabe à nossa área analisar. Somos os responsáveis por pesquisar, produzir e dispensar o medicamento à população, mas são os médicos que ganham o mérito. Triste tudo isso!

 

O pior é que a matéria do Fantástico, sem informações técnicas sobre os genéricos, começa a surtir o efeito no cotidiano. Já no dia seguinte à reportagem, pacientes chegaram às farmácias em busca dos medicamentos de referência. É ou não é esquisito? Quem ganha com isso? Lógico que são as empresas responsáveis pela produção das "marcas", as quais  têm acirrado fervorosas campanhas contra os genéricos. Parece mesmo um complô para acabar com esses medicamentos e prejudicar a população.

 

Foram  muitos anos para que os genéricos entrassem no mercado. Em 23 de Janeiro deste ano, após 20 anos de batalha, a Organização Mundial do Comércio conseguiu aprovar emenda ao texto do Acordo Sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual e garantir a importação de genéricos pelos países que não conseguem produzir esses medicamentos.  Esta mudança é uma batalha iniciada nos anos 1990, quando foi instituída a lei dos genéricos. No Brasil, ela representa queda nos custos de remédios e abertura de novos mercados.

 

A matéria do Fantástico, enfim, tenta promover os grandes fabricantes, recuperar o mercado dos remédios "de marca", gerar dúvidas na população e desqualificar as políticas adotadas pelos governos anteriores para o uso de medicamentos de custos mais baixos para os usuários da saúde pública no Brasil. Tudo não passa de maquinação e má intenção. Se fosse um caso sério, além de valorizar os genéricos, a emissora teria o bom senso de procurar a avaliação de um farmacêutico para se posicionar sobre o tema. O que não foi feito. Absurdo, tudo isso! 

 

Veridiana Ribeiro

Presidente do Sinfarpe


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